Principais considerações e sugestões para estrangeiros que procuram investir em imóveis nos Estados Unidos

João Pedro Volz – 9 de julio de 2022

É grande o apelo que o setor imobiliário americano tem para muitos investidores internacionais. Os investimentos imobiliários podem servir para vários propósitos: uma fonte de receita em dólares americanos, proporcionando um fluxo constante de retorno sobre o investimento; uma opção de armazenamento de riqueza para proteção contra o risco da moeda local e inflação; e até para uso pessoal como casa de férias. Dessa forma, não é de se admirar que cerca de 20% dos imóveis da Flórida tenham sido comprados por investidores estrangeiros antes de 2020. Embora as consequências socioeconômicas da epidemia de COVID-19 tenham levado a uma queda no investimento estrangeiro, estamos começando a ver nos EUA um forte ressurgimento de interesse dos investidores internacionais em investimentos em “tijolo e argamassa”.

 

Embora atraente para muitos internacionalmente, o investimento imobiliário nos EUA pode ser caro para quem está despreparado. Uma análise prévia cuidadosa e o uso da estrutura certa para conduzir seu investimento são a chave para evitar algumas onerosas armadilhas deste tipo de investimento. Não existe uma estrutura única que possa atender às necessidades de todo e qualquer investidor. As estruturas podem priorizar privacidade, proteção de ativos, eficiência de custos ou praticidade. Ao encontrar o ajuste certo, o investidor diligente deve levar em consideração a necessidade dos reportes à Receita Federal, os acordos de troca de informações entre países, as leis de proteção de ativos, os custos tributários, os custos da estrutura e a facilidade com que a estrutura pode abrir contas bancárias ou obter hipotecas. Esse tipo de análise muitas vezes é repassado para profissionais que frequentemente seguem padrões em vez de dedicar tempo para estudar o que melhor atenderá às necessidades específicas de seus clientes. Eu espero nas próximas páginas conseguir ajudar aqueles que desejam construir um plano para si ou para seus clientes a obter uma visão geral de alguns tópicos que podem precisar considerar. Abranger todos esses tópicos em sua completude é assunto para volumes de livros e vai além do escopo deste artigo. Minha esperança é elucidar sobre os principais conceitos que os investidores devem conhecer e examinar, e em relação a esses conceitos abordar as cinco estruturas mais usadas e úteis para investidores internacionais que desejam investir em imóveis nos EUA.

Conceitos-chave para investidores internacionais

Tipos de entidades para investimentos

“Quem está investindo” é a primeira e mais importante pergunta quando se trata de investimento imobiliário. Não há restrição sobre quem pode comprar imóveis nos Estados Unidos. Ou seja, o titular do imóvel pode ser qualquer pessoa, desde pessoas físicas, jurídicas, corporations, partnerships, disregarded entities, grantor e nongrantor Trusts. O tratamento desses potenciais investidores também é fortemente baseado no fato de serem estrangeiros ou doméstico.

Geralmente, uma corporation, partnership ou disregarded entity é considerada doméstica americana de acordo com seu local de constituição. Se estiverem registradas em um Estado americano, são consideradas domésticas, caso contrário, geralmente são consideradas estrangeiras. O tratamento como corporation, partnership ou disregarded entity é determinado no ato da constituição, ou por eleição posterior. Sem eleição, as Corps são tributadas como C-Corporations, as LLCs com um único sócio são tributadas como disregarded entities, as LLCs com mais de um sócio são tributadas como partnerships e quase todas as entidades estrangeiras são tributadas como corporations estrangeiras. Os Estados Unidos oferecem alguma flexibilidade no tratamento tributário das entidades por meio do formulário 8832 do IRS. Este formulário permite que certas empresas domésticas e estrangeiras elejam seu tratamento tributário nos Estados Unidos. As corporations americanas podem optar por serem tributariamente tratadas como S-Corporations. As LLCs americanas podem optar por serem tributariamente tratadas como C-Corporations ou S-Corporations, e algumas empresas estrangeiras geralmente podem optar por serem tributariamente tratadas como partnerships ou disregarded entities. No caso das empresas estrangeiras, dependerá se a empresa estrangeira não constar da lista de empresas “per se” que não podem eleger seu tratamento tributário. A escolha de alterar o status tributário de sua empresa geralmente afeta apenas o tratamento do IRS sobre a entidade e normalmente não terá efeito sobre como outras jurisdições considerarão a empresa.

Trusts são um pouco mais complicados a este respeito. Para que um trust seja considerado doméstico, ele deve ser regido por uma jurisdição americana, o “teste do tribunal” (“court test”), e substancialmente controlado por um indivíduo americano, o “teste de controle” (“control test”). A falha em qualquer um dos testes resultará no trust sendo considerado um trust estrangeiro. Alguns Estados dos EUA aprovaram estatutos para o “directed trust” que concedem aos grantors flexibilidade na determinação do status fiscal de seus trusts, colocando o controle substancial dos ativos de um trust em um terceiro estrangeiro e não no trustee profissional. Quando esses terceiros são estrangeiros, não residentes nos Estados Unidos, consequentemente esses trusts falham no “teste de controle”. Ou seja, um trust pode desfrutar dos benefícios das leis de Wyoming, Nevada ou Dakota do Sul e ser considerado um trust estrangeiro para fins de imposto de renda. Vamos explorar a importância desses tipos de trusts abaixo.

Considerações tributárias

Existem cinco tipos principais de impostos que precisamos analisar ao lidar com estruturas para investimento imobiliário: o Imposto sobre a Renda e Ganho de Capital, Imposto sobre Herança e Doação, retenção de Dividendos Corporativos e Imposto sobre Lucros de Filiais (Branch Profit Tax), retenção do FIRPTA e Retenção de Partnership. Se você é um profissional da área tributária, provavelmente sabe que a retenção do FIRPTA e a Retenção de Partnership não são realmente impostos, e que a retenção de dividendos corporativos não é o mesmo que o imposto sobre Lucros de Filiais (Branch Profit Tax). Entretanto, decidi incluí-los juntos, pois a regulamentação sobre todas essas questões decorre do IRS e, de alguma forma, afetará as determinações sobre quais estruturas usar ao investir. Se você não viu seu imposto favorito na lista, não é porque eu o ache sem importância, escolhi esta lista porque sinto que são os mais importantes ao examinar as estruturas usadas para investimentos imobiliários nos EUA por estrangeiros.

- Imposto sobre a Renda e Ganho de Capital

Imposto sobre a renda e ganho de capital são os dois mais importantes impostos quando se considera qual estrutura usar. Isso ocorre principalmente porque eles variam profundamente dependendo da estrutura. Com investimentos imobiliários, a maioria dos investidores pode esperar que suas fontes primárias de renda sejam provenientes de renda de aluguel e da venda de imóveis. A renda de aluguel geralmente é tributada nas alíquotas progressivas de imposto de renda para pessoas físicas, 10% a 37% do lucro líquido, e na alíquota de imposto corporativo de 21% para empresas estrangeiras e domésticas. Os impostos sobre ganhos de capital podem ser divididos em longo e curto prazo. Ganhos de capital de longo prazo ocorrem quando o imóvel é vendido após três anos da compra. Considera-se curto prazo qualquer período inferior a três anos para transações imobiliárias. Contudo, há uma diferença acentuada nas alíquotas de imposto no nível da pessoa física: sobre o ganho de capital de longo prazo tributa-se nas faixas reduzidas de 0% a 23%, enquanto os ganhos de capital de curto prazo são tributados nas mesmas alíquotas que a renda regular. Já as Corporations não têm um regime diferente com base no tipo de rendimento e todos os ganhos de capital são tributados na mesma alíquota fixa de 21%.

- Imposto sobre Herança e Doação

De todas as considerações que os indivíduos estrangeiros devem fazer ao investir em imóveis nos Estados Unidos, nenhuma é tão importante quanto planejar os impostos sobre heranças e doações. Isso ocorre principalmente porque heranças e doações podem ser altamente tributadas nos EUA e indivíduos não domiciliados têm uma isenção relativamente pequena. Embora os impostos sobre doação e herança sejam dois impostos separados, eles têm as mesmas alíquotas e se aplicam de maneira semelhante a indivíduos estrangeiros que investem nos Estados Unidos. O imposto sobre doação e herança varia de 10% a 40% do valor de um bem que está sendo transferido ou herdado. Embora as alíquotas pareçam comparáveis às do imposto sobre a renda, é importante considerar que elas não são calculadas sobre a renda, mas sim sobre o valor bruto da propriedade transferida. Aplica-se geralmente a todas as propriedades situadas nos EUA detidas por indivíduos estrangeiros, incluindo as holdings imobiliárias. Enquanto os residentes nos EUA têm sobre este imposto uma isenção vitalícia de 11,5 milhões de dólares, os investidores estrangeiros têm uma isenção de somente US$60.000, muito menor. Devido ao alto valor dos imóveis e ao fato desse imposto não estar atrelado a nenhuma geração de renda, muitas famílias estrangeiras que não planejam em torno desse imposto acabam tendo que vender o bem para pagar os impostos. O planejamento em torno desse imposto é a principal razão pela qual veremos a seguir duas estruturas em camadas. Uma entidade estrangeira pode muitas vezes servir como um bloqueador de impostos sobre herança. Pessoas jurídicas não morrem e, desta forma, geralmente não ocorre o fato gerador do imposto sobre a herança nos EUA. Quando os proprietários dessas estruturas doam ou legam ações da estrutura estrangeira, esses eventos são geralmente considerados isentos de tributação nos EUA ou não necessitam ser reportados aos EUA. Nesse sentido, nem todas as estruturas são iguais, e examinaremos as possíveis falhas na proteção ao imposto de herança quando detalharmos as estruturas.

- Dividendos Corporativos e Impostos sobre Lucros de Filiais (Branch Profit Taxes)

Na maioria dos casos, as corporations americanas estão sujeitas a dois níveis de tributação. O primeiro é o imposto de renda na alíquota fixa de 21% que discutimos acima. Os dividendos pagos aos acionistas de corporations americanas também são tributados ao destinatário. Este imposto será muitas vezes considerado um dividendo qualificado quando o indivíduo for residente fiscal nos EUA e será reportado na declaração de imposto (formulário 1040) desse indivíduo juntamente com todos os outros rendimentos que a pessoa possa ter recebido durante o ano. Quando um acionista estrangeiro, pessoa física ou jurídica, recebe dividendos, da corporation americana é retido 30% de imposto sobre o dividendo pago. Essa retenção, como todas as outras retenções que discutiremos, acontece para garantir que os impostos sejam pagos sobre os rendimentos auferidos. Devido à dificuldade em processar indivíduos estrangeiros que não pagam os impostos devidos, os Estados Unidos, em alguns casos, optaram por impor uma obrigação de retenção ao pagador em nome do destinatário estrangeiro. O destinatário estrangeiro desse dividendo não precisa apresentar uma declaração de imposto reportando o pagamento desse dividendo, uma vez que os impostos sobre esse rendimento já foram pagos em seu nome.

O imposto sobre o lucro das filiais (Branch Profit Tax) visa colocar as corporations estrangeiras que investem nos Estados Unidos em pé de igualdade com as corporations americanas. O imposto de 30% sobre o lucro da filial aplica-se sempre que uma corporation estrangeira aufere uma renda efetivamente ligada a um comércio ou negócio dos EUA (Effectively Connected Income – ECI) que não seja reinvestida no mesmo ano em que é obtida. Em outras palavras, o governo dos EUA cobra um imposto adicional de 30% além do imposto de 21% porque assume que o lucro que não foi reinvestido está sendo distribuído aos sócios estrangeiros. Este imposto adicional aparece sempre que uma corporation estrangeira apresenta um formulário 1120F declarando renda de fonte americana. Ele teoricamente se aplica a qualquer ECI obtido pela corporation estrangeira. Discutiremos a seguir a melhor forma de reduzir ou eliminar o potencial imposto sobre o lucro da filial (Branch Profit Tax) em estruturas sujeitas a ele.

- Retenção do FIRPTA

A retenção do FIRPTA é uma das considerações mais importantes nas transações imobiliárias. Também conhecido como retenção 1445, o FIRPTA aplica-se sempre que um estrangeiro não residente nos EUA vende imóveis localizados nos Estados Unidos. O comprador do imóvel é geralmente obrigado a reter 15% do valor bruto do imóvel vendido. Este montante normalmente mais do que cobre qualquer potencial imposto que possa ser aplicável à transação. No caso, essa retenção do FIRPTA, diferentemente da retenção feita pela corporation americana sobre o pagamento de dividendos a estrangeiros, não é, na verdade, um imposto. Sua finalidade é garantir que uma pessoa estrangeira atenda aos requisitos de preenchimento dos documentos tributários necessários para a venda ou transferência da propriedade americana e pague adequadamente os impostos pela venda de seus imóveis nos EUA. Nas operações envolvendo FIRPTA, os investidores receberão uma cópia de um formulário 8288-A onde ali deverá ser detalhado o valor retido, que será utilizado para apresentar uma declaração de imposto e geralmente solicitar a restituição.

Embora o processo descrito acima pareça bastante fácil, nos últimos anos o IRS levou cada vez mais tempo para conceder reembolsos de alto valor. Isso se exacerbou com a política do “trabalhe em casa” em função da COVID-19, inviabilizando o suprimento da demanda pelos poucos indivíduos que trabalhavam no processamento do FIRPTA. O atraso é muitas vezes agravado nos casos de indivíduos com vários nomes, mas que os escrevem no formulário 8288-A diferentemente dos que foram escritos na declaração de imposto, um erro bobo, mas muito comum. Essas ineficiências fazem com que as estruturas que não exigem retenção do FIRPTA pareçam muito mais atraentes para os investidores, mas, como discutiremos a seguir, esse benefício vem com um custo.

A retenção do FIRPTA pode ser evitada solicitando um certificado de retenção do IRS. Esses certificados podem ser solicitados quando nenhum imposto é devido na operação, ou quando os impostos devidos são muito inferiores ao valor retido, o que quase sempre acontece. Um advogado, title company ou contador geralmente atuará como agente de retenção para a transação e guardará os fundos até que o IRS libere o certificado ou rejeite a petição. Essas petições devem ser apresentadas antes da data de fechamento do negócio de compra/venda do imóvel, juntamente com a documentação necessária. Até recentemente, esses certificados eram concedidos quando o pedido era feito em tempo hábil e de forma completa. Após o COVID-19, o IRS começou a atrasar sua resposta às solicitações. A dor de cabeça que esse processo pode causar versus o aumento da carga tributária em ter uma estrutura que evite a necessidade dele é algo que todo investidor deve considerar.

- Retenção de Partnership

Assim como o FIRPTA, a retenção de Partnership não é um imposto, mas sim uma garantia de que o sócio estrangeiro cumprirá seu dever de apresentar declarações fiscais sobre a renda de origem dos EUA.

Resumidamente, a seção 1446 do código do IRS exige que as partnerships retenham a alíquota máxima de imposto aplicável sobre a renda relacionada a um sócio estrangeiro. Em outras palavras, a seção 1446 exige que pessoas físicas e trusts estrangeiros sofram retenção de 37%, e corporations estrangeiras sofram retenção de 21%. Diferente do FIRPTA, essa retenção é sobre o lucro líquido e não sobre o valor bruto de uma transação. A retenção é feita pela corporation pagadora diretamente ao preencher o formulário 1065. Uma cópia do quanto foi retido é enviada ao sócio que pode apresentar sua própria declaração de imposto para solicitar uma restituição. Como a retenção é feita na alíquota máxima, geralmente haverá um reembolso devido aos sócios estrangeiros. A exceção são as corporations estrangeiras que não têm uma alíquota gradual de imposto, mas sim uma alíquota fixa de 21% sobre todos os rendimentos.

Estruturas comuns utilizadas por investidores internacionais em imóveis nos EUA

Estrutura de corp dupla

A estrutura de Corp dupla é a mais utilizada por contadores e advogados para seus clientes internacionais, e com razão. A estrutura de Corp dupla envolve uma corporation estrangeira que possui diretamente 100% da participação ou ações de uma corporation dos EUA ou LLC dos EUA que escolheu ser tratada como uma corporation. Essa estrutura exige que a corporation americana envie o formulário 1120 anualmente e que a corporation estrangeira envie o formulário 1120F sempre que receber lucros da liquidação de sua holding nos Estados Unidos. 

Essa estrutura é bastante popular pois simplifica muitas das questões discutidas anteriormente. A corporation estrangeira serve como um “bloqueador” de impostos sucessórios para evitar qualquer potencial responsabilidade tributária. A corporation dos EUA serve como uma barreira ao FIRPTA, decorrente do fato de que as corporations dos EUA são pessoas americanas que podem assinar declarações não estrangeiras (non-foreign affidavit) durante o fechamento do negócio de compra/venda de imóveis. A estrutura da Corp dupla também é geralmente isenta do imposto sobre o lucro da filial (Branch Profit Tax) em suas transações imobiliárias. A corporation estrangeira idealmente precisaria apenas declarar o imposto de renda na eventual liquidação de sua subsidiária, e essa atividade geralmente não está sujeita ao imposto sobre o lucro da filial (Branch Profit Tax).

Apesar dessas vantagens, essa estrutura sofre uma carga tributária potencialmente alta. O custo de ter dois níveis de imposto não é fácil de ignorar. No nível da corporation americana, a estrutura está sujeita ao imposto de renda fixo de 21%, bem como a um imposto sobre dividendos de 30% sempre que um pagamento de dividendos for feito. Os dividendos são opcionais, portanto, muitos que possuem imóveis nessa estrutura evitam fazê-los por completo. Há um eventual imposto de renda adicional de 21% sempre que a corporation estrangeira liquidar suas participações na corporation americana. Embora a corporation americana não precise distribuir renda ao seu acionista, essa estrutura estará geralmente sujeita a dois níveis de tributação sempre que os lucros forem remetidos ao seu proprietário. Os investidores que valorizam a privacidade também devem saber que as corporations americanas são obrigadas a informar no formulário 5472 quem são os acionistas que detiverem 25% ou quaisquer beneficiários diretos ou indiretos da estrutura. Essas informações geralmente não são trocadas com outros governos.

Embora eu não me oponha ao uso dessa estrutura, geralmente eu não a recomendaria para quem espera obter um lucro relevante em seus investimentos imobiliários. Com base na minha experiência pessoal, entendo que pode ser arriscado supor que você nunca obterá lucros. Essa estrutura serviu para muitos investidores estrangeiros no mercado de imóveis em Miami nos últimos 10 anos, onde os preços eram relativamente estáveis e os investidores estavam empatando ou vendendo por um valor abaixo do preço de compra de seus imóveis (considerando os custos de manutenção, pagamentos de juros e impostos da propriedade). Com o inesperado boom pós-pandemia nos valores imobiliários em todo o sul da Flórida, encontrei vários investidores que ficaram tristemente surpresos com a necessidade de pagar impostos em função da estrutura societária escolhida.

Corp estrangeira e disregarded entity

Esta é uma estrutura mais incomum, mas não totalmente desconhecida. Nela há uma holding corporation estrangeira que detém 100% da participação em uma LLC que não fez nenhuma eleição tributária. Em termos fiscais, a LLC não faz diferença, e essa análise também se aplica a estruturas que envolvem uma corporation estrangeira que detém diretamente a participação imobiliária dos EUA. Essa estrutura somente necessita anualmente enviar o formulário 1120F e enviar o formulário 5472 por parte da LLC. A principal vantagem oferecida por essa estrutura é que ela ajuda a evitar impostos imobiliários e, teoricamente, poderia evitar as alíquotas mais altas aplicáveis à estrutura de Corp dupla.

A desvantagem dessa estrutura é ter de lidar tanto com a retenção do FIRPTA quanto com o imposto sobre lucros de filiais (Branch Profit Tax). A retenção do FIRPTA não é um imposto real e pode ser evitada conforme discutido nas seções acima, mas planejar a documentação apropriada antes de uma venda é fundamental na manutenção dessa estrutura. Em outras palavras, dá mais trabalho para o seu contador. Além disso, embora o imposto sobre lucros de filiais (Branch Profit Tax) seja uma questão a ser considerada nesta estrutura, a maioria das entidades detentoras de imóveis não terá receita por vários anos, uma vez que o valor dos imóveis é depreciado, e isso, juntamente com outras despesas, geralmente reduz a responsabilidade fiscal a zero. O planejamento tributário para análise do lucro da filial também será exigido quando o imóvel for vendido. A fim de evitar potencialmente o pagamento adicional de 30% em impostos, a LLC subjacente deve ser liquidada no mesmo ano em que a participação imobiliária é vendida.  

Essa estrutura pode ser planejada com eficiência tributária, mas requer muito trabalho de contadores ou advogados atentos que precisam acompanhar as questões do FIRPTA e do BPT que envolvem essa estrutura. Por esta razão, é raramente utilizada em comparação com a estrutura Corp. Dupla.

Estrutura disregarded em dois níveis

Essa estrutura não é para o investidor ultraconservador. Ela possui maior eficiência tributária com menor proteção de ativos. Essa estrutura envolve o uso de uma corporation estrangeira que optou por ser tratada como uma disregarded entity, ou partnership, possuindo 100% de uma LLC doméstica disregarded. Em termos tributários, dá ao dono beneficiário acesso a alíquotas de imposto individual muito mais baixas que as discutidas anteriormente, evitando quaisquer questões de dupla tributação e impostos sobre o lucro da filial. Neste caso, os indivíduos também devem planejar em torno do FIRPTA.

O principal debate com esta estrutura é se ela irá ou não de fato proteger contra a aplicabilidade do imposto sobre doação ou herança. Teoricamente, há argumentos para ambos os lados. Os defensores de que a estrutura não vai proteger contra o imposto argumentam que os ativos das disregarded entities domésticas, e não as próprias entidades, que serão considerados no caso de impostos sobre herança, e o tratamento de disregarded entities estrangeiras não será diferente. Aqueles que argumentam que esta estrutura protege contra impostos sobre a herança irão apontar que o IRS ainda não regula ou acompanha as mudanças de propriedade entre indivíduos estrangeiros e shares de entidades estrangeiras. Eles também argumentarão que, nas décadas desde o desenvolvimento dessas estruturas, ainda não houve um caso que tratasse dessa questão, ou qualquer comunicação do IRS sobre como eles tratariam essas estruturas.

Embora eu seja da opinião de que os investidores não devem se preocupar com as questões tributárias nessas estruturas, existem maneiras mais eficientes de obter uma tributação eficiente, garantindo a proteção dos impostos sobre a herança.

Estrutura com Trust estrangeiro

A estrutura com trust estrangeiro é potencialmente uma das estruturas mais protetoras existentes para investimentos imobiliários. Envolve um trust estrangeiro non-grantor que possui 100% de uma LLC doméstica. O trust estrangeiro precisará preencher um formulário 1040NR em nome do trust sempre que houver recebimento de aluguel ou ganhos de capital. Esta estrutura também está sujeita a um único nível de tributação nas alíquotas incidentes sobre rendimento das pessoas físicas e em caso de ganho de capital. Ele tem a melhor limitação de responsabilidade, pois nem o grantor nem os beneficiários do trust são geralmente tratados como proprietários do imóvel. Dependendo de quais leis regem o trust, ele poderá ter um dos mais altos níveis de proteção de privacidade. Essa estrutura protege contra a incidência de impostos sobre doação e herança, e o imposto sobre o lucro das filiais (Branch Profit Tax) não se aplica, dado que não há Corp estrangeira ou preenchimento do formulário 1120F. É importante atentar que os investidores que usam essa estrutura ainda precisam planejar em torno do FIRPTA e considerar que os trusts tendem a ser mais caros para configurar e manter do que outras entidades.

Essa estrutura é altamente flexível e não tenho problemas em recomendá-la aos investidores. Com o desenvolvimento de leis favoráveis para directed trusts em Dakota do Sul, Nevada e Wyoming, você pode até ter a flexibilidade de ter um trust estrangeiro com sede nos EUA. Esses trusts se beneficiariam das leis de privacidade e proteção de ativos desses Estados, permitindo que investidores estrangeiros mantenham o tratamento tributário estrangeiro.

Usando partnerships

A substituição de LLCs disregarded nas estruturas discutidas acima por partnerships pode ser mais benéfica. Por exemplo, as partnerships americanas não estão sujeitas a retenção de FIRPTA. No caso, a retenção na partnership é aplicável, mas essa retenção é sobre o lucro líquido e é mais facilmente reembolsada quando o sócio estrangeiro declara seu imposto ao IRS. O uso de partnerships gera mais trabalho na declaração, pois a partnership precisará preencher um formulário 1065 em separado, ainda assim, ela pode ajudar os sócios a evitar algumas dores de cabeça sem gerar aumento da tributação.

Conclusão

Neste artigo tive o objetivo de simplificar um dos aspectos mais complexos da lei dos Estados Unidos. A ideia foi informar aos profissionais e potenciais investidores algumas das considerações e opções que eles têm ao investir em bens imóveis nos Estados Unidos. Antes de realizar qualquer investimento, recomendo que seja feita uma consulta com um profissional especialista na área tributária americana, seja eu ou outro profissional se sua confiança. Os pontos listados nesse artigo estão longe de serem das únicas coisas que precisam ser refletidas antes de investir. Como já afirmei, estar despreparado ao investir pode ser um erro oneroso.